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A Aldeia da Paradinha nasceu em Alvarenga, Arouca, no distrito de Aveiro, entre as serras da Freita e Montemuro. A sua construção vernacular de traça tradicional em xisto e ardósia valeu-lhe a distinção de Aldeia de Portugal. O seu casario em cascata numa encosta montanhosa estende-se até ao Rio Paiva onde nasceu uma aprazível praia fluvial e parque de merendas. Aqui já não existem moradores permanentes, só turistas do alojamento local ou casas restauradas. Muitos desses casebres e empreendimentos hoteleiros foram recuperados ou construídos, por vezes com materiais e técnicas inapropriadas que desvirtuam a sua autenticidade rural. A beleza desta aldeia e seu enquadramento natural podem ser abraçados do miradouro “Mira Paiva”, que lança vistas para o rio serpenteante no fundo do vale, que desemboca nos Passadiços do Paiva a jusante. Esta região há milhões de anos foi um mar pouco profundo e onde subsistem fósseis e vestígios geológicos, para quem souber procurar.  Existem muitos pontos de interesse arquitetónicos, geológicos, naturais e gastronómicos, que podem ser apreendidos e que vamos partilhar.        

Meitriz em Arouca é uma terra profundamente longínqua, que brotou do fundo do Vale do Rio Paiva e que conserva ainda a sua traça tradicional, recebendo a distinção de Aldeia de Portugal. O rio por ela se enamorou, fazendo-lhe uma vénia ao chegar e oferecendo-lhe uma praia fluvial para se perfumar. Ela deu-lhe volta à cabeça, ele deu-lhe voltas ao rio, tão recortadas de pasmar, não podendo ficar partiu, dando lágrimas ao lugar. Por estas terras se reconquistou e perdeu território para o Sarraceno, Almançor por aqui atemorizou, mas este povo sempre lutou e como em Moldes igrejas sempre edificou. 

Janarde em Arouca foi abençoada com uma luxuriante natureza e vista soberba sobre o vale do Rio Paiva, preservando ainda algum do seu casario em xisto e socalcos agrícolas que outrora davam pão ao povo. É também uma velha terra com milhões de anos gravados na história geológica das suas rochas. O espírito de Deus ao pairar sobre as águas deu à luz a vida, tendo a sua criação moldado seres de todas as formas e feitiços, que foram vivendo e morrendo ao longo de milhões de anos. Muitos foram aqueles que nos deixaram provas da sua existência, através dos restos fossilizados dos seus corpos ou icnofósseis das pistas por onde passaram, existindo aqui um importante geossítio do Arouca Geopark, onde poderá admirar marcas deste passado. A nossa curiosidade levou-nos a fazer um pequeno trilho para conhecer esta terra, paleontologia, icnofósseis, meandros, cocheiros e biblioteca do Rio Paiva.

Saltando sobre picos montanhosos, cruzamos a imensidão da Serra da Arada, no concelho de São Pedro do Sul, que irrompeu pelo Maciço da Gralheira, no reino das Montanhas Mágicas e aventureiros descobrem a Rota da Água e da Pedra. Nesta serra trilhamos o Percurso Pedestre - PR1 Rota das Bétulas, que começa junto do Retiro da Fraguinha, que encerra religiosamente um pedaço de turfeira, antigo tesouro do tempo das glaciações. Do alto do espetacular Miradouro da Ribeira Escura, vislumbramos as aldeias de Candal e Póvoas das Leiras, que se fazem acompanhar pela Ribeira de Paivó e uma levada que parte da Lagoa da Fraguinha. Os modernos moinhos de vento chegaram como maquiavélicas criaturas, dotados de eólicos braços, que prostrados em cimo dos penedos ameaçam tudo o que a vista alcança, brandindo as suas facínoras espadas. Vamos então viajar e conhecer estes recantos, onde tão desrespeitado tempo viajou para paragens mais afortunadas e bafejadas pela agitação, desassossego e humano desatino.

Fomos conhecer a Serra de São Macário, onde meditou o ermita, penitenciando-se pelos pecados e vida boémia que viveu, enclausurado em serrados e impenetráveis penedos, longe da vista humana. No fundo do vale o povo erigiu com xisto a Aldeia da Pena, com vista para a Livraria da Pena, onde se pode ler na curiosa geologia e restos fossilizados da passagem de trilobites a história do ordovício há 480 milhões de anos. O percurso pedestre, PR 4 - Rota da Cabra e do Lobo, de São Pedro do Sul começa nesta Aldeia de Portugal, caminha por paisagens que a elevação humana não abarca, passando pelas igualmente formosas aldeias de Covas do Monte e Covas do Rio. É esta odisseia pelo passado que lhes vamos contar neste artigo, onde vimos cabras e até um lobo fugidio.  

O município de Vale de Cambra alberga no seu reino três belas aldeias, que embrenhadas nas serras poderá conquistar, Trebilhadouro, Felgueira e Lomba. As duas primeiras ostentam a marca de qualidade “Aldeias de Portugal”, mas todas estão inseridas nas “Montanhas Mágicas”. Estas terras partilham a ruralidade, autenticidade, tradições, natureza, ribeiros e serras. Neste artigo vamos caminhar por este concelho, visitar estas aldeias e perceber algumas das razões que levam ao seu declínio e desertificação. Estudamos também que medidas foram implementadas para as revitalizar sem as descaracterizar.

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