Fuste | A Quinta da Sr.ª Iracema Iracema Coelho com o seu porco "Tiago"
terça, 14 novembro 2017 23:09

Fuste | A Quinta da Sr.ª Iracema

Classifique este item
(2 votos)

Numa destas frias manhãs de outono deslocamo-nos ao lugar de Fuste, que pertence à freguesia de Moldes em Arouca. Chegamos ao local por uma estrada pequena em largura e condições. Os vales das serras ainda estavam cobertos pela neblina matinal, mas o sol prometia chegar por breves horas aos locais mais recônditos.

Iracema Coelho e o porco

Fuste | A Quinta da Sr.ª Iracema

Estacionamos o nosso carro perto da capela de Santa Catarina e preparamo-nos para a nossa caminhada. Ainda mal tínhamos esticado as pernas quando surgiu à nossa frente, num terreno com duas medas de milho, uma mulher cuja nossa curiosidade nos levou a perguntar o que andava a fazer e, palavra-puxa-palavra, nos levou a conhecer a sua quinta e animais.    

A mulher disse chamar-se Iracema Coelho. Com 59 anos de idade, nasceu e reside em Fuste, toda a vida trabalhou a terra, disse mesmo que se quisesse neste momento ir trabalhar para outro oficio duvida que conseguiria.

Quando a encontramos andava a tratar dos animais; tinha ido buscar uma maças para dar aos porcos. O campo onde estava a trabalhar antigamente era de renda, mas o pagamento variava com o que tiravam da terra; de tudo, davam metade ao senhorio. No entanto, essas rendas não chegavam para os patrões fazerem obras nas suas casas, já que eles também tinham as suas despesas com adubos e outros produtos. Como era difícil para todos os donos, deram-lhes ordens para cultivar sem qualquer pagamento, de forma a não deixar as terras a criar mato.

O seu marido também ajuda na lavoura, no tempo que lhe sobra de quando não está no seu trabalho na Associação Florestal de Arouca. Em alguns campos tiram milho, batata, hortaliça; acrescentando, com orgulho, que têm muito feijão e que noutros apenas erva para o gado.

Apontou as dificuldades de viverem naquele local e terem de se deslocar a Arouca para fazerem compras.

Não vivem muitas pessoas na sua aldeia. Disse ter emigrado muita malta nova e que “outros compraram casa lá em baixo na vila, porque é mais perto para irem para o trabalho. Aqui praticamente só ficaram os mais velhos”. Segundo a Iracema, neste lugar vivem cerca de 40/50 pessoas. Na aldeia há poucas crianças; apenas as suas netas e mais três ou quatro catraios que andam na escola primária e liceu.

À pergunta de como ocupam o tempo quando não estão a trabalhar na agricultura, rematou que quem trabalha na mesma tem sempre o que fazer; até ao Domingo, porque os animais têm que comer. Apesar disso, por vezes tiram tempo para irem a festas religiosas como a padroeira do lugar Santa Catarina, que se realiza no penúltimo domingo de agosto, ou a Feira das Colheitas, na sede do concelho.

A conversa levou-a a perceber o nosso gosto por estas lides e animais e, por isso, convidou-nos a visitar a sua quinta e a ver os animais.

Esta viagem foi sem dúvida marcada por histórias caninas. Aqui vamos contar já uma a outra devido à sua riqueza fica para outro artigo.

Depois de sairmos do terreno e contornarmos uma rua lá demos com a entrada da mesma e, mal a Senhora abriu a porta, surgiu o seu cão de nome “Kinder”. Com dois anos, é atualmente a sua companhia quando o homem está no ofício. Mas nem tudo foram rosas, já que ele tão depressa apareceu como desapareceu para o pátio interior, tendo a dona dito que devia ter ido buscar uma bola para a brincadeira. Assim, o cão, com a sua vontade de brincar, tornou difícil a estabilidade para a tomada de fotografias, mas lá fizemos o nosso trabalho; fotografa-lo é que já foi mais difícil. Apesar do trabalho, tiramos um bocadinho de tempo para brincar com o “Kinder”, tirando-lhe a bola à força da mandíbula e pontapeando-a para longe.

Regressando à narrativa, a mulher disse que o marido pôs ao porco o nome de “Tiago”. Com 180 quilos, fará um ano em dezembro. Além disso, conta com cinco ovelhas. Uma delas, a mais idosa, tem cerca de 13 anos, e para ter mais sossego está separada das outras no curral. Mas, se num primeiro momento as mais novas fugiram, regressaram passados uns momentos para, com um olhar alcoviteiro, ver o que o fotógrafo estava a fazer. Devido ao tamanho, a sua vaca “Cabanas” tem um curral particular. De raça arouquesa, possui 4 anos de idade. Há poucos meses, vendeu o filho dela. Noutra divisão do curral, estavam três cabras e um carneiro. Tem também patos, galinhas e perus, os quais se passeiam livremente pelo pátio. Os patos é que não se cansavam de grasnar; assim como os perus. Nós viemos alterar a rotina e eles parecem não ter apreciado.

Atualmente, Iracema vive com o marido e tem quatro filhos. O filho, com 20 anos, estuda em Coimbra. No que toca às filhas, uma vive em Arouca, outra em Fuste e a última na Suíça.

Mas, apesar de aqui o tempo correr mais devagar, tivemos que nos pôr ao caminho, já que tínhamos um trilho para fazer até Rio de Frades; lá deixamos a senhora acabar de alimentar os animais. Despedimo-nos para tristeza do cão, que entristeceu os olhos e deixou cair a bola da boca.

Leia também histórias de caminhadas:

Galeria de fotos

 

Lida 1996 vezes

Autor

Ondas da Serra

Ondas da Serra® é uma marca registada e um Órgão de Comunicação Social periódico inscrito na ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social, com um jornal online. O nosso projeto visa através da publicação das nossas reportagens exclusivas e originais promover a divulgação e defesa do património natural, arquitetónico, pessoas, animais e tradições do distrito de Aveiro e de outras regiões de Portugal. Recorreremos à justiça para defendermos os nossos direitos de autor se detetarmos a utilização do nosso material, texto e fotos sem consentimento e de forma ilegal.     

Itens relacionados

Dr. Ricardo Jorge: O que é assédio laboral e como se defender

Castelo de Paiva viu nascer, há 47 anos, Ricardo Jorge, um homem amante da terra onde ganhou raízes e semeou uma grande carreira e vida familiar. O Rio Douro serpenteia por estes vales, que ele seguiu até ao Porto, onde se formou em direito. Fomos conhecer este advogado, que irradia serenidade, sabedoria e uma energia que emprega na defesa de causas legais, associativismo, andar de bicicleta ou jogar futsal com os amigos. Nesta entrevista deu-nos a conhecer as suas paixões e valores que defende. Falamos sobre a sua carreira, advocacia, direito administrativo e estado da justiça. Falamos também do direito laboral e aprofundamos a questão do assédio laboral e de que forma os trabalhadores se podem defender e quais são os seus direitos. Estas vítimas podem fazer queixa para o comportamento dos seus superiores hierárquicos ser avaliado judicialmente para eventualmente serem julgados e sancionados a nível contraordenacional ou criminal.

Mestre Felisberto Amador constrói moliceiros na Ria de Aveiro

Em outros tempos a Ria de Aveiro era sulcada por moliceiros, mercantéis, bateiras e outras embarcações em madeira que o tempo foi apagando. Estes homens que lhes davam forma com a sua arte e engenho, munidos apenas com ferramentas rudimentares, onde o machado com arte devastava o pinho para as moldar, eram conhecidos por "Mestres do Machado". Neste artigo vamos conhecer o Mestre Felisberto Amador, de Pardilhó - Estarreja, um dos últimos seus últimos artífices, carpinteiro naval que usa a sua arte para não os deixar morrer e as suas velas possam continuar a enfornar com beleza a ria dos mil esteiros. Estas embarcações podem também ser apreciadas nos canais de Aveiro com turistas a passear, sendo muitas vezes reparadas na sua oficina e que descansam ao sol na Ribeira do Nacinho.

A Forja do Mestre Cuteleiro Toni Pinho

Das mãos feridas por cortes, nascem no templo do Mestre, à força da têmpera e bigorna, facas, espadas, catanas e navalhas, que só um cuteleiro sabe forjar. O Ondas foi conhecer em Ovar, um raro homem de sabedoria ancestral, de nome António Santiago, que do bruto metal, imbuído de crenças orientais, faz peças únicas que intimidam só pelo olhar. Nesta entrevista vamos conhecer o Mestre, a sua vida e paixões, como um encontro mágico na infância o levou para a forja, as fases principais duma peça, o segredo da tempera, os acabamentos em couro e clientes como fama internacional.