Citânia de Briteiros - Um dos maiores castros ibéricos Citânia de Briteiros - Monte de São Romão - São Salvador de Briteiros - Guimarães Ondas da Serra

Citânia de Briteiros - Um dos maiores castros ibéricos

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A Citânia de Briteiros é um dos maiores e mais bem preservados castros da península ibérica, ficando situado no alto do monte de São Romão, na freguesia de Salvador de Briteiros, concelho de Guimarães. Caminhar pelas suas velhas calçadas é ligarmo-nos aos nossos irmãos ancestrais e retrocedermos no passado. Os caminhos são ladeados por pequenos muros, ruínas de casas redondas ou quadradas e muralhas defensivas. Aqui destaca-se o Museu da Cultura Castrense, Casa do Conselho, Vale do Ave e a Pedra Formosa, que fazia parte de antigas saunas.

Pode ler esta reportagem na totalidade ou clicar no título abaixo inserido para um assunto específico:

  1. Castro da Citânia de Briteiros
    1. Descrição do Castro da Citânia de Briteiros
    2. Localização do Castro da Citânia de Briteiros
    3. Rota da Citânia - Guimarães
    4. Começo dos trabalhos arqueológicos no Castro da Citânia de Briteiros
    5. Francisco Martins Sarmento, Arqueólogo que salvou a Citânia de Briteiros
    6. As réplicas das antigas casas na Citânia de Briteiros
    7. As gravuras rupestres no Castro da Citânia de Briteiros
    8. Visita virtual ao Castro da Citânia de Briteiros
  2. Museu da Arte Castreja - Museu da Citânia de Briteiros
  3. Vídeos do Castro da Citânia de Briteiros
    1. Vídeo Citânia de Briteiros - Casa do Conselho
    2. Vídeo Citânia de Briteiros - As réplicas das casas de Martins Sarmento
    3. Vídeo Citânia de Briteiros - O balneário
  4. Galeria de fotos da Citânia de Briteiros e Museu da Cultura Castreja

Castro da Citânia de Briteiros

Descrição do Castro da Citânia de Briteiros

Citânia de Briteiros - Salvador de Briteiros - Guimarães

"A Citânia de Briteiros ocupa o cume (altitude máxima de 336 metros) conhecido por Monte de S. Romão, localizado perto da margem direita do Ave. Situa-se na freguesia de S. Salvador de Briteiros, município de Guimarães. 

O relevo em esporão, no qual o povoado foi implantado, tem um amplo domínio visual sobre o curso médio do rio, tanto para jusante, na direcção de Caldas das Taipas, como para montante, para onde se avistam as serras da Cabreira (extremidade da bacia hidrográfica) e do Gerês.

A Nordeste e Sudoeste, respectivamente, os castros de Santa Iria e de Sabroso inserem-se no campo de visão da Citânia e no seu território de influência, numa relação de interdependência, em parte ainda por definir. A poente divisa-se a serra do Sameiro, em que se destaca o Monte de Santa Marta das Cortiças, sobranceiro a um trajecto natural de circulação entre as bacias do Ave e do Cávado, em cujo controlo a Citânia poderá ter desempenhado um papel preponderante, sendo um dos factores que estiveram, talvez, na origem do seu considerável crescimento. 

A nascente, para além do rio, eleva-se uma sequência de cumeadas que separam os vales do Ave e do Vizela e em cujas encostas se destacam outros povoados proto-históricos de pequena dimensão (Santa Maria do SOUto; Gonça; São Salvador do Souto; Prazins; e Penselo). 

Em segundo plano, por detrás destas elevações avista-se o Monte da Penha. O povoado dispunha de um amplo território teórico de exploração, com uma considerável abundância e diversidade de recursos, incluindo: o cultivo de cereais no sopé das encostas; os pastos utilizados na criação de gado bovino, caprino e ovino; a recolecção de frutos selvagens; a madeira de bosques adjacentes; e o aproveitamento dos recursos piscícolas do Rio Ave. 

A localização próximo do rio, junto de um provável limite de navegabilidade, indicia o controlo de rotas comerciais, tanto no sentido litoral/interior (no qual se inseria o "caminho" fluvial) como de Sul para Norte (o supracitado trajecto de circulação transversal que interligava as bacias hidrográficas do Douro, Sousa, Vizela, Ave, Cávado, Lima e Minho).

Na plenitude dos seus 24 hectares de extensão máxima, a Citânia conserva um sistema defensivo de três ordens de muralha, complementado com uma quarta linha a Nordeste e dois fossos escavados na rocha, no istmo de acesso ao esporão, o ponto mais vulnerável. 

As muralhas foram construídas, com um aparelho poligonal e irregular, facetadas em ambos os lados, sendo o interior preenchido com pedras e areão. As dimensões são, genericamente, uniformes, apresentando cerca de 2 metros de espessura (3 metros nos pontos mais reforçados). 

Quanto à altura, chega a atingir quase 4 metros, nos sectores em que foi restaurada por Mário Cardozo. Nos troços originais, a altura conservada não atinge os dois metros. Contudo, a altura inicial da maior parte dos alinhamentos deveria variar entre 3 e 4 metros. Não se encontraram ainda vestígios de torreões; apenas se observa um interessante bastião numa das portas da terceira muralha.

Nos três alinhamentos, que convergem para Nordeste, distinguem-se algumas portas de acesso, por onde transitam vários caminhos, que supomos coevos do povoado, embora ainda utilizados no século XIX. Estes acessos, abertos nas muralhas, tinham uma largura variável, de cerca de 1,50 metros na única porta conservada da primeira muralha, e de cerca de 2,50 metros numa das portas da terceira muralha. Nalguns destes acessos, é ainda visível o sulco de encaixe de um entablamento ou paliçada amovível, que abriria de baixo para cima. 

De referir a porta mais curiosa, eventualmente uma das principais, aberta na terceira muralha, junto do istmo localizado a Nordeste que ligaria tanto ao vale superior do Rio Febras, como também às cumeadas que envolvem o Monte da Pedralva. Esta entrada encontra-se, ligeiramente, recuada em relação ao alinhamento dos muros, sendo protegida por um bastião maciço a Norte e por um conjunto de penedos naturais a Sul.

Outra particularidade do sistema defensivo corresponde ao troço Sudoeste da terceira muralha, que contorna uma plataforma natural. Esta área plana, com óptimas condições para o desenvolvimento urbano, seria acessível pela rua pavimentada que ligava o núcleo central à zona Sudoeste do povoado, passando pelo balneário. Não estaria aqui implantada uma terceira zona habitacional autónoma, além das duas já conhecidas: a acrópole e a encosta nascente? 

O facto de a área em questão nunca ter sido escavada, impede-nos de ser mais conclusivos quanto à ocupação deste espaço. Um pouco à frente, já no flanco Sudeste, voltado ao Ave, a segunda muralha evitou sobrepor-se a um núcleo de gravuras pré-históricas, recentemente estudado, mantido assim no exterior do perímetro do povoado da Idade do Ferro.

A primeira muralha parece ser o alinhamento mais simples, definindo a área mais elevada do núcleo urbano, distinguindo-se um corredor de circulação interno, a poente. Todavia esta faixa, sem construções, já não se conserva na encosta nascente, onde, aparentemente, foi ocupada em consequência do desenvolvimento urbano da Citânia. 

O alinhamento da estrutura defensiva é ainda visível, mas, progressivamente, foi transformada em simples muro de suporte de várias casas de família. A segunda muralha é quase paralela à primeira, pelo menos até ao local onde se ergue a Casa do Conselho, ou seja no extremo Sudeste do cume. Mas, a partir deste ponto, diverge para nascente, descendo a encosta e descrevendo, deste modo, um amplo arco. 

A terceira linha defensiva é a mais extensa. Possui um traçado irregular, distanciando-se das outras duas no sentido Sudoeste e Sul, de tal modo que abrange uma vasta área.

Todo este complexo sistema de defesa retrata uma sociedade politicamente instável, ou uma comunidade em permanente conflito com inimigos externos? Ou as muralhas representariam o poder instituído, servindo como símbolo de uma administração rígida?

Talvez estes vectores fossem articuláveis, sendo as muralhas não só um elemento intimidativo para possíveis inimigos e um sistema efectivo de defesa, em períodos de maior instabilidade ou conflito, mas também um meio de controlo da circulaçåo interna no aglomerado, separando zonas socialmente distintas, ou com tradições específicas.

A área urbana da Citânia, já conhecida, corresponde à acrópole (definida pela primeira muralha que delimita a plataforma cimeira da elevação) e à encosta nascente, no sopé do qual as estruturas se prolongam para além da Estrada Nacional 309 (construída nos anos 30 do séc. XX e que penetrou no interior do povoado). Ocupa uma área aproximada de 7 hectares, equivalendo à zona escavada por Francisco Martins Sarmento e por Mário Cardozo. 

Dentro desta área foram identificadas 104 unidades domésticas (número que pode ser ligeiramente alterado para mais em função dos estudos em curso), agrupadas em pequenos bairros delimitados por eixos viários definidos hierarquicamente. Estes eixos representam um primeiro ensaio de organização dos espaços urbanos, cuja cronologia suscita divergências nos meios científicos.

A análise das duas plantas disponíveis (1892 e 1999) permite observar uma malha aproximadamente ortogonal, no caso dos eixos principais, mas irregular, embora com ângulos rectos, no caso das vielas secundárias e áleas, ou becos. Esta estrutura de ordenamento corresponde ao conceito de Proto-urbanismo, patente noutros sítios arqueológicos similares e característico da II Idade do Ferro. 

As ruas apresentam pavimentos lajeados e estão delimitadas por muros que envolvem os conjuntos habitacionais familiares. Trata-se, sinteticamente, de um hipotético programa de criação de quarteirões ortogonais, que se adaptou à irregularidade topográfica do terreno, bem como à existência de estruturas anteriores (construções circulares) que, em certos casos, se mantiveram e noutros foram truncadas, ou modificadas.

Dentro de cada quarteirão, ou bairro, distinguem-se, como já se referiu, as diferentes unidades domésticas. Esta nomenclatura, ou visão dos espaços de habitação familiares, nunca foi colocada por Martins Sarmento ou por Mário Cardozo que olharam para cada estrutura como sendo uma casa diferenciada. De facto cada "casa", circular ou angular, está integrada num pequeno complexo, no centro do qual está um pátio, frequentemente lajeado, e para onde abriam as portas das estruturas. 

Em certos casos, estes complexos assemelham-se mesmo a um edifício uniforme, com um espaço aberto no centro. Este factor, aliado à circunstância de cada complexo estar nitidamente separado dos restantes e das ruas, embora existam paredes meeiras, leva-nos a pensar que as diferentes estruturas, mais não são que compartimentos integrantes da mesma Casa, ou unidade familiar.

Cada unidade habitacional é, normalmente, constituída por uma a três estruturas circulares (das quais uma costuma assumir uma função de destaque) e várias outras estruturas angulares, cuja implantação dá a entender que ocupavam o espaço restante, por vezes no enfiamento de estruturas circulares, ou adossadas aos muros que delimitavam a unidade habitacional. É de crer que cada estrutura assumiria funções distintas: habitat secundário, armazém, oficina ou estábulo. O mais curioso nestes complexos é a imponência construtiva do lajeado do pátio e da estrutura circular de maior destaque, bem como a notória divisão entre o que é espaço público (ou seja as ruas e outras zonas abertas) e o espaço privado, ou familiar.

A unidade reconstruída da Citânia de Sanfins (Silva 1999) embora com pormenores discutíveis, como a continuidade da cobertura, e apesar de ter uma área inferior à média, materializa, de forma convincente, a unidade habitacional dos grandes castros da II Idade do Ferro do Noroeste de Portugal.

Este proto-urbanismo ordenou, assim, uma superfície ocupada por mais de uma centena de famílias, cujo perfil sócio-económico seria bastante variável, facto patente nas diferenças de qualidade construtiva, e na estética característica de certos aparelhos, bem como nas decorações de elementos arquitectónicos e outros indicadores sociais (inscrições latinas, gravadas na rocha ou em lintéis). Todos estes dados apontam para a existência de uma administração centralizada e, provavelmente, oligárquica.

Neste contexto, a clara definição das áreas privadas pressupõe a existência de outros espaços colectivos de autoridade e simbólicos, além das ruas e das muralhas. Em Briteiros, conhecemos pelo menos dois exemplos de equipamentos colectivos: os banhos e a Casa do Conselho. Quanto aos banhos existiram pelo menos dois: o que se conserva no sopé da encosta, a Sudoeste, e o outro, de onde proveio a Pedra Formosa, exposta no Museu da Cultura Castreja, em S. Salvador de Briteiros. 

Se à partida os banhos não constituíram propriedade exclusiva de uma família, por se encontrarem fora dos espaços domésticos e inclusivamente junto de eixos viários e portas de acesso, também não sabemos até que ponto estariam abertos à utilização pública generalizada. E quanto à sua função de sauna e banhos, tão-pouco se poderá definir, por ora, o real significado destes equipamentos: higiene ou ritual; ou ambos, sendo menos provável o primeiro.

Aliás a relevância da água é, particularmente, visível em Briteiros, devido à precoce descoberta da Pedra Formosa, recolhida na Citânia no século XVIII, cuja implantação original se desconhece. Este elemento arquitectónico é formado por uma grande laje, ou estela, profusamente decorada, com uma abertura semicircular na sua seção inferior. 

A descoberta dos banhos intactos, escavados na década de 30 do séc. XX por Mário Cardozo, implica a existência de uma outra estrutura similar, de onde deveria ter saído a primeira estela, edifício que seria, forçosamente, de maiores dimensões. Mais adiante analisa-se, de novo, esta questão.

Obedecendo a uma morfologia tripartida, a estrutura do balneário que se observa, e que corresponde a um padrão generalizado nestes edifícios, era constituída por uma fornalha (onde se aqueciam blocos de granito ou de quartzito), uma câmara de sauna (onde se provocava o vapor, espalhando água sobre as pedras incandescentes) e um compartimento de entrada, eventualmente com funções de vestiário. Este compartimento e câmara de sauna eram separados pela "Pedra Formosa". 

O único acesso entre os dois era o orifício inferior da estela, o qual, embora permitindo a passagem de uma pessoa, é tão pequeno quanto possível, para evitar a fuga de calor. Além disto, o balneário apresenta também um pátio exterior lajeado, onde se dispunha um tanque de água fria, para o qual descarregava uma canalização.

A decoração da Pedra Formosa, poderá indicar o uso ritual do local, ou pelo menos a atribuição de um significado fundamental à água, neste período.

A existência da conduta em pedra, associada a um dos principais eixos urbanos da Citânia, revela uma importante inovação no uso da água. Não possuímos para esta estrutura (tal como para muitas outras na Citânia) um enquadramento crono-estratigráfico que nos permita datá-la com suficiente acurácia. 

Porém, tudo indica que ela esteja associada ao traçado da rua, assim como à utilização dos banhos descobertos a Sudoeste, nos anos 30, onde termina o caleiro. A construção da conduta parece ter partido de uma nascente natural, outrora existente perto de um conjunto de penedos, localizados, sensivelmente, a meia-encosta do declive Nordeste da acrópole. Daqui, a canalização levaria água corrente ao longo da rua, até desembocar no tanque exterior do referido balneário.

Muito dificilmente poderemos considerar que esta conduta terá assumido como objectivo secundário o abastecimento doméstico aos quarteirões habitacionais da encosta nascente, Aparentemente, apenas um conjunto doméstico foi contemplado com uma ramificação própria para uso domiciliário, além das unidades residenciais que são atravessadas pela conduta junto da nascente, e que também se serviram dela. 

De facto, a ramificação da conduta pública para um espaço privado deveria ter atendido a motivos, por ora desconhecidos e mais relevantes do que o simples abastecimento doméstico, pois que outras casas da Citânia, de famílias abastadas, não possuem qualquer indício de água canalizada.

Contudo, a conduta também serviu para provimento de água à população. Sensivelmente a meio do caminho que leva ao balneário, observa-se um tanque público, inserido no trajecto do aqueduto o qual depois continua a descer ao longo da via. 

A partir deste ponto, a rua apresenta uma topografia mais íngreme, conservando-se vários alinhamentos diagonais em pedra, traçados com o objectivo preciso de impedir o alagamento da calçada, contribuindo para o fluxo de água na canalização de pedra, lateral à via, o que não deixa de suscitar uma certa perplexidade. Curiosamente nota-se neste sector da conduta, pelo menos uma cavidade no meio do tramo, que teria sido concebida como caixa de controlo da corrente hidráulica na descida para o balneário.

É de facto estranho que apenas o sector da encosta nascente da Citânia apresente um sistema de abastecimento artificial de água, factor que melhoraria consideravelmente as condições de habitabilidade do espaço. Teria este factor sido determinante para a expansão urbana de qualidade, que se observa ao longo desta encosta? 

De qualquer modo, as famílias de uma das linhagens dominantes, que habitariam conjuntos domésticos como a Casa de Coronerus Camali, a Casa de Medamus Camali e a "Casa da Espiral", continuaram, aparentemente, a ocupar a zona central da acrópole. De outro modo não se justificariam as inscrições em latim gravadas na rocha aplanada, nos pátios.

Uma das particularidades da Citânia de Briteiros reside numa estrutura, habitualmente designada como "Casa do Conselho". Nesta casa circular com cerca de 11 metros de diâmetro e um banco corrido ao longo da parede interior, teria funcionado um órgão colegial de decisão. Na escolha do local desta estrutura está subjacente uma complexa simbologia de organização do espaço, pois situa-se junto da primeira muralha, numa zona ampla, sem estruturas domésticas próximas e de onde se divisa grande parte do que seria o território de influência do povoado.

Ainda na acrópole conservam-se os vestígios de uma ermida medieval (provavelmente dedicada a S. Romão) com necrópole de inumação associada, bem como as duas casas circulares reconstruídas por Martins Sarmento, naquilo que foi a primeira tentativa de restauro integral de estruturas proto-históricas em Portugal."2 (Lemos, F. S., & Cruz, G., 2006)

Localização do Castro da Citânia de Briteiros

"A Citânia de Briteiros ocupa o cume (altitude máxima de 336 metros) conhecido por Monte de S. Romão, localizado perto da margem direita do Ave. Situa-se na freguesia de S. Salvador de Briteiros, município de Guimarães."2 (Lemos, F. S., & Cruz, G., 2006)

Rota da Citânia - Guimarães

Este local arqueológico e o museu da cultura castreja ficam integrados no PR2 – Rota da Citânia, que fizemos parcialmente. Este castro pode ser considerado do tipo luso-romano segundo Sérgio, A. (1978). BREVE INTERPRETAÇÃO DA HISTÒRIA DE PORTUGAL. LISBOA: LIVRARIA SA DA COSTA.

"A Rota da Citânia estende-se ao longo das freguesia de Donim e S. Salvador de Briteiros, na orla setentrional do concelho, delimitado a norte pelas montanhas de altitude média acima dos quatrocentos metros da Falperra e a zona de vale do rio Ave, a sul. Trata-se de um território que, para além de dispor de boas condições naturais para as actividades agro-pastoris, disponibiliza excelentes condições de defesa natural, condições privilegiadas para os desenvolvimentos das primeiras formas civilizacionais.

Começo dos trabalhos arqueológicos no Castro da Citânia de Briteiros

Castro da Citânia de Briteiros

Os trabalhos arqueológicos de Martins Sarmento em Sabroso e em Briteiros, a partir de 1875, permitiram conhecer uma das mais importantes civilizações castrejas do noroeste peninsular.

Os achados arqueológicos que então foram disponibilizados, e que podem ser observados na Citânia de Briteiros e no Museu da Cultura Castreja (dois espaços integrados neste trilho pedestre), PR2 Rota da Citânia representam importantes testemunhos da complexidade civilizacional destes povos.

Dos artefactos em ouro, com decorações muito elaboradas até ao trabalho da pedra, de que são exemplos emblemáticos as Pedras Formosas, os objectos de uso pessoal, os instrumentos e alfaias usados nas actividades quotidianas, permite-nos imaginar que a civilização castreja, “matriz da identidade cultural” dos povos do noroeste possuía formas culturais e artísticas bastante evoluídas. Ao longo do rio Ave e dos afluentes Febras e Torto podemos, ainda hoje, observar alguns dos artefactos de maior utilidade na economia agro-pastoril desta região – os moinhos. É, pois, na procura dos moinhos e da paisagem envolvente que o convidamos a fazer o percurso que a seguir lhe propomos."1 

Francisco Martins Sarmento, Arqueólogo que salvou a Citânia de Briteiros

Francisco Martins Sarmento, Arqueólogo que salvou a Citânia de Briteiros

A citânia tem cerca de vinte e quatro hectares, Martins Sarmento comprou muitos destes terrenos e sete foram por ele logo recuperados. Estes trabalhos puseram a descoberto vestígios das duas fases principais da ocupação, da idade do ferro que compreende o início do povoado que se iniciou oitocentos anos antes de Cristo e a época romana.

A maioria das ruínas são de formato circular, com grande concentração na zona da acrópole, mas também existem outras retangulares por influência dos romanos.

O traçado das vias compreende uma via principal e ruas secundárias, denotando já um certo proto urbanismo. Ao passearmos por estas ruas não podemos deixar de sentir um curioso sentimento que nos transportou para outras eras e nas profundezas dos nossos genes algumas luzes se acenderam.

A citânia tem quatro linhas de muralha, só não sendo bem visível uma delas, que está muito destruída e tapada pela vegetação. Perto do cruzamento das vias uma das portas de entrada mantêm ainda o seu caráter imponente e no exterior têm-se uma vista privilegiada sobre o vale do rio Ave.

Leia também: Guimarães | Em São Torcato pisamos Campo da Ataca

As réplicas das antigas casas redondas na Citânia de Briteiros

Réplicas das antigas casas redondas na Citânia de Briteiros

Na acrópole existem duas réplicas destas casas mandadas construir por Martins Sarmento de forma as pessoas terem uma melhor perceção das ruínas, contudo o mesmo não ficou agradado com a sua excessiva altura.

Outro dos locais que se destaca é a Casa do Concelho, onde os patriarcas destas famílias, sacerdotes e outras pessoas importantes daqueles tempos se reuniam para debater as suas questões judiciais, de defesa, ataque, distribuição de baldios, tarefas e cerimónias oficiais. 

Em tempos idos a água da nascente era aproveitada e conduzida por caleiras até à zona do balneário pré-romano bem conservada e onde poderá ser apreciada uma das pedras formosas.  

As gravuras rupestres no Castro da Citânia de Briteiros

Gravuras rupestres na Citânia de Briteiros - Salvador de Briteiros - Guimarães

Espalhados por este espaço poderão ser encontradas gravuras rupestres, principalmente constituídas por espirais. O Ondas da Serra agradece a Daniela Cardoso, funcionária da autarquia, pela forma como nos ajudou durante os trabalhos na Citânia. A mesma tem vasto trabalho acadêmico publicado sobre esta temática onde destacamos os contributos para o conhecimento mais aprofundado sobre a arte rupestre no vale do Ave, Trás-os-Montes e Alto Douro. (2015). A arte atlântica do Monte de S. Romão (Guimarães) no contexto da arte rupestre pós-paleolítica da Bacia do Ave – Noroeste Português (Doutoramento).

É fácil no meio destas ruínas imaginar a vida nessas comunidades e compreender quem somos e como aqui chegamos. Este local foi habitado por cerca de três mil pessoas, mas com a chegada dos romanos e muitas lutas travadas a “Pax Romana” foi imposta e estes povos abandonaram os castros para irem viver para as “Villas” Romanas, onde tinham melhor conforto, segurança e “civilização”.

A área está dividida alfabeticamente bastando ao visitante seguir o mapa e ler a respectiva informação, contudo este sistema é algo deficitário e poderia ser melhorado.

Visita virtual ao Castro da Citânia de Briteiros

Quem estiver interessado em visitar este local, pode começar por fazer uma visita virtual à Citânia de Briteiros, através duma aplicação online desenvolvida pela Universidade do Minho. 

Museu da Arte Castreja - Museu Citânia de Briteiros

Onde se pode apreciar a famosa "Pedra Formosa"

Pedra Formosa - Museu da Arte Castreja - Guimarães

Aconselhamos os nossos leitores que pretendam ir conhecer este sítio arqueológico a visitarem primeiro o museu da cultura castreja, onde ficam a conhecer a vida de Francisco Morais Sarmento, que viveu no século XIX. Este homem foi um pioneiro da arqueologia em Portugal e do estudo levado a cabo neste monte. O museu reúne muito desse espólio e a conhecida “Pedra Formosa” de um dos balneários (sauna) destruídos pela passagem da estrada que liga Briteiros a Braga (via Bom Jesus).

Vídeos do Castro da Citânia de Briteiros

Vídeo Citânia de Briteiros - Casa do Conselho

Vídeo Citânia de Briteiros - As réplicas das casas de Martins Sarmento

Vídeo Citânia de Briteiros - O balneário

Galeria de fotos da Citânia de Briteiros e Museu da Cultura Castreja

Créditos e Fontes pesquisadas

Texto: Ondas da Serra com exceção do que está em itálico e devidamente referenciado.
Fotos: Ondas da Serra.
1 - visitguimaraes.travel
2 - Lemos, F. S., & Cruz, G. (2006). Citânia de Briteiros: Programa de investigação e valorização do monumento. In Forum (No. 39, pp. 3-40).

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Autor

Ondas da Serra

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