Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro Professor Manuel Oliveira - Presidente da Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro – Ria de Aveiro - Ribeira de Pardelhas - Murtosa Ondas da Serra

Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro

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O Ondas foi conhecer a Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro, na Ribeira de Pardelhas – Murtosa, que tem como missão preservar as embarcações tradicionais da Ria de Aveiro, onde se destaca o barco moliceiro e ainda dar formação náutica e desportiva.

Neste artigo estivemos à conversa com o Professor Manuel Oliveira, simultaneamente Presidente da associação e formador, que nos contou a sua história, de algumas das suas relíquias históricas, o tipo de formação que dão aos sócios e estivemos a ver um Mestre a trabalhar na recuperação dum barco de recreio e fomos ver outro aparelhar um moliceiro e navegar com ele na ria.

Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro – Ria de Aveiro - Murtosa

Barco Moliceiro declarado oficialmente como embarcação com interesse histórico

Barco Moliceiro declarado oficialmente como embarcação com interesse histórico - Moliceiro Sermar

Conforme consta nos seus estatutos desta associação tem como área de intervenção principal a defesa de todos os valores ambientais da Ria de Aveiro, e o seu património natural e construído.

Esta associação tem o estatuto de utilidade pública e através do seu trabalho viu reconhecido oficialmente o Barco Moliceiro como única embarcação portuguesa com interesse histórico, contribuindo assim para a sua valorização e preservação.

Os “Amigos da Ria” desenvolvem também outras atividades culturais e desportivas que lhe conferem valor e contribuem para aumentar o seu valor e prestigio.

O carismático Presidente desta Associação Professor Manuel Oliveira

Aluno João Manuel Oliveira acompanhado pelo seu Professor Manuel Oliveira

Manuel Oliveira é o enérgico Presidente da Associação, que impulsionado pelo vento da sua paixão pela ria e navegando com ajuda dos sócios, tenta cumprir a sua nobre missão. Logo na primeira reunião preparatória deste trabalho, surpreendeu-nos com uns versos dedicados ao Ondas da Serra. Gostamos muito de ter recebido este poema porque nunca o tinham feito e soubemos logo ali que estávamos em presença duma pessoa culta e especial.

As raízes deste professor

O Presidente nasceu em Caracas na Venezuela, estando atualmente aposentado como professor de educação física, casado, dizendo com sentimento que tem dois filhos, um homem na casa dos trinta anos e os “Amigos da Ria”. A sua formação está relacionada com a náutica, sendo patrão de alto mar e atualmente monitor de atividades náuticas. Embora também esteja habilitado para a pesca profissional e nunca tendo exercido esta atividade. Fez também uma pós-graduação na área da alimentação e sua história.

Um homem dos sete ofícios

Manuel Oliveira, gosta de dizer que colocou todos os seus saberes de professor, formação náutico, pescador, desportista, cozinheiro e amante da natureza, ao serviço deste movimento associativo.

Quando nos recebeu na sede da associação estava acompanhado por um aluno a quem ia dar formação de seguida para marinheiro, podendo depois continuar os estudos para patrão local, de costa ou alto mar.

O nascimento duma forma mística da paixão pela Ria de Aveiro e pelo barco moliceiro

O seu relacionamento com a ria nasceu duma forma natural há cerca de 30 anos, ele e a sua namorada, atual esposa, eram ambos professores.

Estes namorados davam muitos passeios junto da ria, onde existem muitos locais aprazíveis. Esta proximidade com as águas com o passar do tempo foi fortalecendo a sua relação. O casal namorava nos intervalos da correção dos exames e começaram a explorar a ria e a tentar pescar caranguejos nas margens da Torreira, com uma meia de vidro, com uma pedra no interior e usando bacalhau como isco.

A historia da compra do seu primeiro moliceiro, “O Tiaguinho”

Relíquias Moliceiro Tiaguinho e Vela antiga em linho

Num desses passeios que faziam em direção a São Jacinto, perto da Torreira, a paixão nasceu duma forma mística, “Eu parece que ouvi uma voz que chamava por mim a dizer, -Estou aqui!, -Estou aqui!, -Estou aqui! Eu olhava e não via nada e pensei se alguém estava a chamar por mim. Eu apenas via um barquinho pequeno, replica de moliceiro, eu pensei se era o moliceiro que estava a chamar por mim.

Foi nesse sábado, que encontrou na maré baixa, pousado no areal aquele pequeno barco e ao aproximar-se, “duma maravilhada daquelas, com as pinturas, as cores, o formato, eu não resisti e subi para o moliceiro, eu senti uma paz, uma harmonia, uma coisa diferente, ai que barquinho lindíssimo”.

No dia seguinte resolveu dar o mesmo passeio e ao passar novamente junto do barco a voz interior regressou e para seu espanto viu que o barco tinha uma placa a dizer que se vendia e veio a saber que custava 130 contos. Com as suas economias e ajuda da sua Margarida, lá comprou na segunda-feira seguinte, em Estarreja, o moliceiro, “O Tiaguinho”.

O canto da sereia que atrai os navegantes

Ao longo das décadas este homem foi compreendendo que há energias especiais que a ciência e a quântica já conseguem explicar. Aquele chamamento do “Tiaguinho” despoletou uma serie de acontecimentos que marcaram a sua vida.

Para navegar com o moliceiro teve que estudar para ter a carta de marinheiro, relacionar-se com Mestres do ofício, carpinteiros navais e pescadores que tinham alguns moliceiros. Depois desta aprendizagem começou a participar nas regatas da ria com o seu pequeno barco de oito metros, enfrentando como no Cabo das Tormentas, gigantes Adamastores com 15 metros.

As redes, a bateira e o barracão

Depois de andar à pesca dos caranguejos, quis apanhar uns peixitos e como não tinha sorte à linha, soube que um pescador tinha desistido da atividade e estava a vender próximo das Pardelhas, nos Ameirinhos, os artefactos que já não necessitava. Foi assim que lhe comprou duas redes e ele o incentivou a ficar também com a sua bateira e o respetivo barracão para o guardar.

Foi desta forma misteriosa, que a Ria de Aveiro se manifestou na sua vida e ele começou a migrar de forma crescente para esta zona, onde passava os fins-de-semana no barracão. Foi este encontro casual com o Tiaguinho, com as águas e a pesca que lhe modificaram o destino, “Posso dizer que tenho dois filhos, o meu Marco Valentino, com 30 anos e o segundo que é o moliceiro e a ria. Um filho eu escolhi do outro não me posso libertar porque fui encolhido por ele. Só quando a ria e os barcos moliceiros acabarem é que eu deixo de existir.

O restauro do moliceiro “Tiaguinho”

O “Tiaguinho” agora do Manuel Oliveira, durante algumas décadas renasceu para a vida e namoro com a sua amada ria. Este pequeno barco com alma grande que resiste à passagem do tempo e se recusa partir, brevemente irá ser restaurado para continuar a sua viagem, chamar as pessoas à sua presença e perpetuar a sua história.

As potencialidades da ria

As pessoas que no começo deste projeto chegavam à associação desconheciam as potencialidades da ria, como a satisfação de navegar numa bateira a remos ou deixar-se seduzir pela vela, poder pescar nos seus recantos, mergulhar nas suas praias ou explorar os seus canais e ilhas desconhecidas.

História da associação

Esta associação foi fundada em 1990 e nasceu da paixão dum grupo de amigos pela ria e barco moliceiro. Estes homens meteram mãos à obra com vontade de fazerem algo para a sua defesa e conservação. Por esta razão acharam que deveriam ter um estaleiro para recuperarem estas embarcações.

A sede da associação localizada na Ribeira de Pardelhas - Murtosa

Sede da Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro – Ria de Aveiro - Ribeira de Pardelhas - Murtosa

O Presidente realçou as boas instalações desta associação em termos de espaço e significado, localizada na Ribeira de Pardelhas - Murtosa, situada no coração da Ria de Aveiro. A ria tem cerca de 42 quilómetros de extensão, no sentido norte-sul, com muitas ilhas e onde desaguam quatro rios. Esta proximidade levou associação apostar na formação náutica e desportiva, ministrada pelo Professor nas suas instalações.  

Os barcos moliceiros e as bateiras da associação

Este projeto começou pela recuperação das embarcações tradicionais, onde o barco moliceiro é o elemento central, mas a dada altura começaram também a construir embarcações menores como as bateiras. As primeiras eram usadas na apanha do moliço, usado pelos agricultores para adubar as terras e as segundas na pesca.

As bateiras são dividas em caçadeiras, com cinco metros de comprimento, que eram usadas nesta zona por serem muito móveis, para a caça aos patos nas ilhas e sulcarem os caneiros silenciosamente e as de maior envergadura usadas na pesca.   

Os “Amigos da Ria” já recuperam também um batel do sal de raiz, da Figueira da Foz, que foi o seu maior trabalho, tendo a embarcação 19 metros. Uma embarcação do gênero na Ria de Aveiro denominasse mercantel e servia para transportar sal, mas também outros tipos de produtos.

A participação no movimento nacional de defesa das embarcações tradicionais.

No contacto com as embarcações tradicionais esta associação verificou que já existia um movimento nacional em defesa das mesmas, mas que não estava a funcionar em rede. Destas reuniões nasceu a “Associação Portuguesa do Património Marítimo”, e que permitiu irem a congressos internacionais desta temática.

O desaparecimento das embarcações tradicionais  

O que o Presidente constatou nestes congressos na Europa foi que com o advento da fibra e do plástico, as embarcações tradicionais em madeira estavam a desaparecer. Neste concelho da Murtosa ainda podem ser encontradas muitas destas embarcações típicas, já que a grande maioria das embarcações de pesca ainda são neste material, mas em outras partes do país isso já não acontece.

Esta associação nacional contribui para que a defesa destes barcos possa ser feita duma forma organizada, eficiente e com a colaboração de todos.

A declaração de interesse histórico do barco moliceiro

Ao trabalharam com esta associação nacional verificaram que não existia nenhuma embarcação portuguesa com o estatuto de interesse histórico, nem seque o barco rebelo do Douro ou as fragatas do Tejo. Nesse sentido elaboram uma candidatura que foi aceite e atualmente o barco moliceiro é a única embarcação nacional reconhecida oficialmente com interesse histórico.

Vídeo resumido sobre a "Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro"

O “Tiaguinho” a embarcação mais antiga da Ria de Aveiro  

Na altura em que estavam a trabalhar para a criação da associação nacional conheceram o escritor Lamy Laranjeira de Ovar, que já tinha publicado trabalhos sobre a ria e o barco moliceiro. Um dia este homem apareceu na associação a perguntar se estavam interessados numa réplica de moliceiro, que tinha na sua garagem.

Esta replica tinha cerca de 5 metros de cumprimento e ostentava pinturas com mais de 50 anos dum artista da Torreira, que a torna a mais antiga da Ria de Aveiro. Por esta razão a associação adquiriu este barco para o seu espólio.

Uma vela com mais de meio século

Outra das preciosidades que têm é uma vela com mais de 50 anos, a mais antiga desta zona lagunar, toda feita em linho e cozida à estreita. Nesta técnica os pequenos panos estreitos eram cozidos duma forma menor do que aquela que começou a ser usada. A mesma foi adquirida pela associação ao Mestre João do André, da Murtosa.

Esta vela descansa agora no corpo do pequeno moliceiro Tiaguinho e juntos completam a alma destes representantes da Ria de Aveiro.

Mas para o Presidente a maior preciosidade são as pessoas e aquelas que vão perpetuar a associação e o seu legado pessoal.

O moliceiro Tonecas apadrinhado pelo ator Luís Aleluia

Moliceiro Tonecas nos estaleiros navais da Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro

O moliceiro Tonecas foi-nos apresentado como a embarcação mais carismática desta zona lagunar, tendo sido apadrinhado pelo ator Luís Aleluia, conhecido interprete da celebre série humorística “As lições do Tonecas”, que esteve no ar na RTP entre 1996 a 1999. Nesta serie ele representava um aluno impertinente e pouco dado a estudos e fazendo a cabeça em água ao seu professor, interpretado pelo saudoso Morais e Castro.

Um dia o Luís Aleluia veio a Oliveira de Azeméis fazer um espetáculo e decidiu apadrinhar esta embarcação que estavam a construir no estaleiro e pretendia fazer depois a formação de marinheiro para experimentar navegar à vela na ria e apreciar mais de perto a beleza do moliceiro. O Presidente referiu que por várias contingências isso não foi possível, mas têm esperanças que um dia possa acontecer.

Um centro de formação para desportistas náuticos

Manuel Oliveira realçou que uma associação tem duas componentes importantes, as pessoas e o espaço físico. Realçou que os “Amigos da Ria”, têm grandes pessoas ali a trabalhar e das melhores instalações do país. A associação possui um centro de formação para desportistas náuticos e Mestres habilitados para repararem as embarcações e explicarem como se navega com elas.

O primeiro contacto que o associado tem com a associação é para fazer a formação para a navegação de recreio, não profissional, exceto se já tiver algum tipo de credenciação. Por exemplo uma pessoa que queira andar com uma mota de água tem que ter a carta de marinheiro, se quiser fazer navegação noturna, tem que ter a carta de patrão local.

O crescimento trazido pela paixão dos novos alunos 

Neste momento associação vive uma fase de grande pujança alimentada pelos novos aprendizes que fizeram a formação de desportistas náuticos e ficaram apaixonados pela associação, colocando a sua energia nas pinturas, obras, reparação de embarcações ou aquisição de novos motores.

O aprendiz de marinheiro João Oliveira

João Manuel Oliveira, tem idênticas semelhanças no nome e paixão pela ria como o seu Professor. Este aluno disse-nos que por ser natural de Espinho e tendo o mar por campainha foi ganhando uma ligação especial com a água. A Ria faz parte do seu imaginário desde criança quando a frequentava com os pais.

Um dos fatores que o inspirou a fazer esta formação foi ter um amigo em Ovar que tem um barco, aumentando assim o seu desejo de aprender a navegá-la. Foi através deste amigo que chegou a esta associação.

Um dos seus objetivos ao tirar o curso de marinheiro é comprar um pequeno veleiro, com motor auxiliar e navegar na ria até três milhas da costa ou até dez milhas do porto de abrigo. O aluno respondeu a esta questão e olhou para o seu Mestre que lhe deu aprovação orgulhoso por ele saber a lição.

Vídeo pormenorizado sobre a "Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro"

Dar sem pensar só em receber

As instalações estão quase na posse da associação, uma das frases repetidas pelo Presidente é “Não nos podemos esquecer que sem alma, sem termos a ria e os barcos moliceiros, sem as pessoas darem um bocadinho, sem esperarem só receber, isto não vale nada. Eu todas as vezes que tenho um novo desafio ou um novo marinheiro e sinto a energia dele, com este novo colega, eu sinto-me mais rico e grato por isso.

O novo projeto da associação “Clube dos Navegantes”

Os “Amigos da Ria” têm um novo projeto chamado “Clube dos Navegantes”, onde vão ter 5 ou 6 embarcações de utilização gratuita, onde as pessoas podem experienciar a vela tradicional, remos e pilotagem. Para começar vão ter duas bateiras caçadeiras, dois botes e uma bateira com cerca de oito metros. Desta forma os alunos podem fazer três atividades complementares, andar à vela, remar ou usar o motor.

Nesta atividade vão ser ajudados pelos Mestres, Manuel Silva e Joaquim Rebelo.

Estes associados podem também neste clube fazer um curso de vela tradicional com os Mestres acima referidos.

Uma associação dotada de boas infraestuturas

Os amigos da ria possuem das melhores instalações do país, sendo os estaleiros compostos por uma sala polivalente, onde decorrem as aulas e exames, no exterior têm uma área para a construção naval artesanal e noutra dependência interior reservada à construção de moliceiros, uma cozinha e cinco casas de banho.  

Mestre Manuel Matos da Silva

Mestre Manuel Matos da Silva - Estaleiro Naval da Associação dos Amigos da Ria e do Barco Moliceiro

Fomos encontrar num sábado o Mestre carpinteiro naval, Manuel Silva a fazer a recuperação do pequeno barco de recreio o “Vera Catarina”, com a proa ostentando orgulhosa símbolos Sportinguista, que fogem à tradição. Este homem nasceu na Murtosa e o seu relacionamento com a ria vem de quando acompanhava o pai na pesca e apanha do moliço. Começou a trabalhar na pesca em alto mar, ao bacalhau, onde se demorava por largos meses, visitando locais como a Noruega, Islândia e Terra Nova.

Nesta associação tem ao seu serviço este Mestre além das reparações das embarcações, dá formação de vela tradicional e pilotagem. Este homem é também pescador profissional e cozinheiro.

Um pouco da história da vida do Mestre

Os navios onde pescou ainda hoje navegam, o “Coimbra”, onde trabalhou dez anos e o Santa Isabel, que utilizavam a porto de Aveiro para fundear. Neste último, um dia quando trabalhava no convés, o contramestre fez-lhe o convite se queira ir substituir um ajudante de cozinha que estava a falar.  O Mestre acabou por gostar daquele serviço e mais tarde numa viajem acabou por substituir de igual e forma e sucesso um cozinheiro.  A associação aproveitou os seus dotes para o nomear “cozinheiro oficial”.

Foi já com mais de trinta anos, quando regressou às suas raízes que resolveu experimentar a pesca na ria. Para esta faina comprou uma embarcação que verificou que precisava de algumas reparações. Foi ele próprio que de forma autodidata consertou a mesma, a regra era retirar a madeira velha e colocar nova. Este conhecimento adquirido é hoje colocado ao serviço da associação.

Reparação do barco de recreio “Vera Catarina”

Reparação do barco de recreio Vera Catarina pelo Mestre Manuel Silva

O “Vera Catarina” que o Mestre estava a recuperar tinham muitas peças em madeira danificadas a bombordo nomeadamente, os braços de caverna, trate, costados, roda da proa e foliamentos, depois ainda falta analisar o estado das peças a estibordo.   

Este barco já antigo foi recebido pelo proprietário como herança do pai, pretendendo recuperá-lo para andar à vela na ria e participar nas regatas do Cais do Bico e Torreira.

Mestre Joaquim Maria da Silva Rebelo

Mestre Joaquim Maria da Silva Rebelo, a bordo do moliceiro Sermar - Cais do Bico - Murtosa

No dia da reportagem fomos ao encontro no Cais do Bico na Murtosa, do Mestre Joaquim Rebelo, que já nos aguardava para demostrar como se faz a aparelhavam da vela no seu pequeno moliceiro de nome Sermar. Quando nos aproximamos do cais reparamos logo que o símbolo do carpinteiro naval que o construiu era o do Mestre Felisberto Amador, de Pardilhó, um nosso amigo e com quem já fizemos bonitas reportagens.

Ler também: Felisberto Amador | Mestre do machado na Ria de Aveiro

Um pouco da história da vida do Mestre

O Mestre é natural da Murtosa e está ligado desde pequeno à ria, onde ainda cedo começou na apanha do moliço com o pai e irmãos.  Foi a bordo destas embarcações que aprendeu a navegá-las quando arrastava moliço para as terras de Salreu. O primeiro moliceiro onde trabalhou pertencia ao construtor destes barcos, Manuel Maria Garrido, com estaleiro em Salreu. O pai mandava fazer os barcos em Mosteiro – Salreu e no Mestre Henriques Lavoura, que ensinou vários Mestres ainda no ativo, como o Felisberto Amador.

Depois aos vinte anos foi cumprir tropa em Campo Delgado – Moçambique. Trabalhou depois nos mercantéis que levavam sal de Aveiro para o Cais da Ribeira de Ovar.

Ler também: O Cais da Ribeira em Ovar

Quando regressou da tropa foi para a pesca do bacalhau na Terra Nova. A sua vida repartiu-se entre a pesca na ria de lampreia, sável e choco e a pesca em alto mar.

O barco moliceiro Sermar 

Barco moliceiro Sermar, a velejar no Cais do Bico - Murtosa - Canal da Murtosa - Ria de Aveiro

Este barco foi comprado ao Mestre Felisberto Amador e a ligação à Associação já tem muitos anos, onde tem a responsabilidade de tomar conta dos barcos e ensinar a navegação à vela tradicional. O Mestre irá transmitir também estes conhecimentos aos sócios que integrem o novo projeto, “Clube dos Navegantes”.

Depois de aparelhar o barco e aproveitar as boas condições do vento e da maré, demonstrou toda a sua habilidade e potencialidades da vela, na forma como manobrou o barco, contribuindo para terminarmos a reportagem duma forma muito poética.

Vídeo | Ria de Aveiro - Moliceiro aparelhado pelo Mestre Joaquim - Navegação à vela - Cais do Bico - Murtosa

O Amor do Ondas pela Ria e Poesia

O Ondas compartilha com esta associação o amor pela ria, pelos elementos e pelas artes tradicionais. Foi também à ria que fomos buscar inspiração para este projeto, nunca nos podemos esquecer que o mais importante são as pessoas e estas entenderem que sem missão a vida fica mais vazia e sem um porto de abrigo.

O poema que o Presidente nos ofereceu

Ondas da Serra
Que desaguam no mar
Têm a Ria de Aveiro
Para se espraiar

Não falamos em água
Nem seque num rochedo
As Ondas são energia
São desafio sem medo

E existem só por isto
Pela forma de comunicar
Pela harmonização da ria
Por uma nova forma de amar

Manuel Oliveira
30 de novembro 2020

 

 

Agradecimentos

O Ondas da Serra agradece toda a colaboração prestada pelo Professor e Presidente da Associação Manuel Oliveira e aos Mestres Manuel Silva e Joaquim Rebelo.

Localização e contactos

Localização: Cais da Ribeira de Pardelhas, Estaleiro Escola, 3870-168 Murtosa

Contactos: Telemóvel: 919 920 793

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Ondas da Serra

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